domingo, 29 de julho de 2012

Viver de Amor



No entardecer do Amor, falando sem figuras,
Assim disse Jesus: “Se alguém me quer amar,
Saiba sempre guardar minha Palavra
Para que o Pai e Eu o venhamos visitar.
Se do seu coração fizer Nossa morada,
Vindo até ele, então, haveremos de amá-lo
E irá, cheio de paz, viver
Em Nosso Amor!” Viver de Amor, Senhor, é Te guardar em mim,
Verbo incriado, Palavra de meu Deus,
Ah, divino Jesus, sabes que Te amo sim,
O Espírito de Amor me abrasa em chama ardente;
Somente enquanto Te amo o Pai atraio a mim.
Que Ele, em meu coração, eu guarde a vida inteira,
Tendo a Vós, ó Trindade, como prisioneira
Do meu Amor!…

Viver de Amor é viver da Tua vida,
Delícia dos eleitos e glorioso Rei;
Vives por mim numa hóstia escondido,
Escondida também por Ti eu viverei!
Os amantes procuram sempre a solidão:
Coração, noite e dia, em outro coração;
Somente Teu olhar me dá felicidade:
Vivo de Amor!

Viver de amor não é, nesta terra,
A nossa tenda armar nos cumes do Tabor;
É subir o Calvário com Jesus,
Como um tesouro olhar a cruz!
No céu eu viverei de alegrias,
Quando, então, todo sofrimento acabará;
Mas, enquanto exilada, quero, no sofrimento
Viver de Amor!

Viver de Amor é dar, dar sem medida,
Sem reclamar na vida recompensa.
Eu dou sem calcular, por estar convencida
De que quem ama nunca em pagamento pensa!…
Ao Coração Divino, que é só ternura em jorro,
Eu tudo já entreguei! Leve e ligeira eu corro,
Só tendo esta riqueza tão apetecida:
Viver de Amor!

Viver de Amor, banir todo temor
E lembranças das faltas do passado.
Não vejo marca alguma em mim do meu pecado:
Tudo, tudo queimou o Amor num só segundo…
Chama divina, ó doce fornalha,
Quero, no teu calor, fixar minha morada
E, em teu fogo é que canto o refrão mais profundo:
“Vivo de Amor!…”

Viver de Amor, guardar dentro do peito
Tesouro que se leva em vaso mortal.
Meu Bem-Amado, minha fraqueza é extrema,
Estou longe de ser um anjo celestial!…
Mas, se venho a cair cada hora que passa,
Em meu socorro vens,
A todo instante me dás tua graça:
Vivo de Amor!

Viver de Amor é velejar sem descanso,
Semeando nos corações a paz e a alegria.
Timoneiro amado, a caridade me impulsiona,
Pois te vejo nas almas, minhas irmãs.
A caridade é minha única estrela
E, à sua doce luz, navego noite e dia,
Ostentando este lema, impresso em minha vela:
“Viver de Amor!”

Viver de Amor, enquanto meu Mestre cochila,
Eis o repouso entre as fúrias da vaga.
Oh! não temas, Senhor, que eu te acorde,
Aguardo em paz a margem dos céus…
Logo a fé irá rasgar seu véu,
Minha esperança é ver-te um dia.
A Caridade infla e empurra minha vela.
Vivo de Amor!…

Viver de Amor, ó meu Divino Mestre,
É pedir-Te que acendas teus Fogos
Na alma santa e consagrada de teu Padre.
Que ele seja mais puro que um Serafim dos céus!…
Tua Igreja imortal, ó Jesus, glorifica
Sem fechar Teu ouvido a meus suspiros;
Por ela tua filha aqui se sacrifica,
Vivo de Amor!

Viver de Amor, Jesus, é enxugar Tua Face
E obter de Ti perdão para os pecadores.
Deus de Amor, que eles voltem à Tua graça
E para todo o sempre teu Nome bendigam.
Ressoa em meu peito a blasfêmia;
Para poder apagá-la estou sempre a cantar:
“Teu Nome sagrado hei de amar e adorar;
Vivo de Amor!…”

Viver de Amor é imitar Maria,
Banhando, com seu pranto e com perfumes raros,
Os pés divinos que beijava embevecida,
Para, depois, com seus cabelos enxugá-los…
Levanta-se, a seguir, quebra o vaso
E Tua doce Face perfuma…
Mas Tua Face eu só perfumo, bom Senhor,
Com meu Amor!

Viver de Amor, estranha loucura”,
Vem o mundo e me diz, “pára com esta glosa,
Não percas o perfume e a vida que é tão boa,
Aprende a usá-los de maneira prazerosa!”
Amar-Te é, então, Jesus, desperdício fecundo!…
Todos os meus perfumes dou-te para sempre,
E desejo cantar, ao sair deste mundo:
“Morro de Amor!”

Morrer de Amor é bem doce martírio:
Bem quisera eu sofrer para morrer assim…
Querubins, todos vós, afinai vossa lira,
Sinto que meu exílio está chegando ao fim!
Chama de Amor, vem consumir-me inteira.
Como pesa teu fardo, ó vida passageira!
Divino Jesus, realiza meu sonho:
Morrer de Amor!…

Morrer de Amor, eis minha esperança!
Quando verei romperem-se todos os meus vínculos,
Só meu Deus há de ser a grande recompensa
E não quero possuir outros bens,
Abrasando-me toda em seu Amor,
A Ele quero unir-me e vê-Lo:
Eis meu destino, eis meu céu:
Viver de Amor!!!…

sábado, 28 de julho de 2012

Lidando com as crises


Aprenda a arte de bem-viver

“A maior ciência não é descobrir novas galáxias ou novas partículas nucleares, mas a descoberta dos segredos dos corações e a sabedoria de compreendê-los”.

Como seria bom se – ao puxarmos a folha do calendário do dia anterior – fosse para o cesto de lixo todas as nossas maldades, problemas e tristezas vividos. Contudo, nada disso acontecerá se, ao iniciar um novo dia, não nascer também em nosso coração o desejo de traçar novas metas ou corrigir outras, nas quais não obtivemos bons resultados.

Apenas “mentalizar” as mudanças que desejamos, sem agir para que estas aconteçam, de nada resolverá.

Viver mudanças, certamente, exigirá de cada um de nós esforço e dedicação, pois, conhecemos nossas fraquezas, medos, inseguranças e incapacidades. Talvez, deixar as coisas como estão seja a atitude mais fácil, rápida, indolor e cômoda. No entanto, estabelecer vínculos de intimidade com os velhos hábitos – que nos aprisionam e nos fazem infelizes – não será uma atitude muito inteligente.

Muitos de nós arrastam situações que não prometem crescimento. Agindo dessa maneira, vamos colocar nossa vida na direção de mais um período de frustrações. A força de que precisamos – para assumir nossas mudanças – vem de Deus.

Podemos assumir novos posicionamentos apenas quando fazemos a retrospectiva sobre aquilo que temos vivido sob a luz d’Aquele em que todas as coisas têm consistência. Tomando posse dessa verdade – de que Deus fala conosco por meio dos acontecimentos e se manifesta, também, por meio de conselhos e experiência de pessoas que nos amam – precisamos convidá-Lo para fazer parte de nossa vida. Assim, as nossas crises e dúvidas agora passam a ser partilhadas com Ele.

Se quisermos que os nossos planos tenham consistência, que venham a perdurar por muitos anos e nos sintamos realizados neles, precisamos romper a casca, onde pensamos estar protegidos, e convidar o Senhor para participar dos nossos sonhos, orientando-nos e nos auxiliando a executá-los.

Saber "lidar com as crises” é também refletir sobre alguns pontos fundamentais para o bom convívio humano. Entre eles, destacamos a ciência de que um bom relacionamento é “uma via de mão dupla”, na qual um precisa respeitar o outro para que o entendimento aconteça. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O amor vence o ódio


Não torneis a ninguém mal por mal

“O que é ruim é que tudo está assim no mundo: o ódio que devora, a ira que nos torna seus prisioneiros e o rancor que nos envenena”. Dom Notker Wolf
O botânico George Washington Carver (1864-1943) superou um terrível preconceito racial para estabelecer-se como um renomado educador americano. Rejeitando a tentação de ceder à amargura pela maneira como foi tratado, Carver escreveu sabiamente: “O ódio interior acabará por destruir aquele que odeia”.
No livro Bíblico de Ester, vemos como o ódio pode ser autodestruidor. Mordecai, um judeu, se recusou a curvar-se diante de Hamã – que se atribuíra importância de dignitário na corte persa. Isso irritou Hamã, que manipulou informações para fazer Mordecai e seu povo parecerem ameaças ao império (3,8-9). Quando terminou de tecer suas intrigas, Hamã apelou ao rei persa para matar todos os judeus. O rei promulgou um decreto nesse sentido, mas, antes que ele pudesse ser cumprido, Ester interveio e o plano diabólico de Hamã foi revelado (7,1-6). Enfurecido, o rei executou Hamã na forca que o intriguista havia construído para Mordecai (7,7-10). 
"As palavras de Carver e as ações de Hamã nos lembram de que o ódio é autodestruidor. A resposta bíblica é virar o ódio ao contrário e pagar o mal com o bem”, escreve o reverendo Dennis Fisher. “Não torneis a ninguém mal por mal...”, disse São Paulo Apóstolo (Romanos 12,17). Quando oferecido, “não vos vingueis a vós mesmos...” (v.19). Ao contrário, faça o bem perante todos os homens (v.17), para viver em “... paz com todos os homens” (v.18).  
“É através do perdão que uma pessoa se redime dos sentimentos amargos que podem transformar a vida em um inferno. Assim, a gente assina um acordo de paz com o seu destino. Para mim, em todo caso, todo perdão é uma vitória do amor sobre si mesmo”, diz Dom Notker Wolf.
Não existe no mundo um sentimento tão sublime e tão poderoso como o amor. O amor vence tudo!

Pe. Inácio José do Vale

domingo, 1 de julho de 2012

O Santo Rosário


Construir a santidade no cotidiano


Aprendendo com a vida e missão de João Batista

Santidade é vocação de todos os cristãos, sem exceção. A redescoberta da Igreja, como um povo unido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo não pode deixar de implicar um reencontro com sua santidade, entendida no seu sentido fundamental de pertença àquele que é o Santo por antonomásia, o três vezes Santo (cf. Is 6,3). Professar a Igreja como santa significa apontar o seu rosto de Esposa de Cristo, que a amou entregando-se por ela precisamente para santificá-la (cf. Ef 5,25-26). Este dom de santidade é oferecido a cada batizado. Mas, o dom gera um dever, que há de moldar a existência cristã inteira: "Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação" (1 Ts 4,3). É um compromisso que diz respeito aos cristãos de qualquer estado ou ordem, chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Significa exprimir a convicção de que, se o batismo é um ingresso na santidade de Deus, por meio da inserção em Cristo e da habitação do Seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre (Cf. Novo Millenio ineunte 30-31).
 
A formação da cultura dos povos é marcada positivamente pela presença da Igreja e por homens e mulheres que se elevam pelo seu comportamento e suas opções de vida, mostrando que, efetivamente, é possível sair da rotina do “mais ou menos” para confirmar que uma alma que se eleva, eleva o mundo. Tenho descoberto esta santidade em homens e mulheres que a testemunham na fidelidade ao Evangelho, na coerência de suas opções e na estatura com que enfrentam as dificuldades da vida. Há de se abrir os olhos e descobrir tais pessoas, vendo-as como provocação positiva ao risco de acomodamento que nos cerca continuamente.

A Igreja reconhece, publicamente, a santidade com o que chama de “beatificação” e “canonização”. Hoje, o Brasil já conta com diversas pessoas assim reconhecidas, entre cristãos leigos, religiosos ou sacerdotes, crianças, jovens e adultos, confessores da fé e mártires. São homens e mulheres, cuja santidade heroica merece ser posta diante dos olhos do mundo. Não nos envergonhemos de dizer que os cristãos têm para oferecer ao mundo o que existe de melhor em humanidade. Não nos furtemos à responsabilidade de superar as falhas humanas existentes com a virtude comprovada e testemunhada. Nosso tempo tem direito a receber dos cristãos a oferta da santidade. Ao reconhecer que o mistério da iniquidade se encontra presente no meio do mundo e também entre os cristãos, continue como referência a medida alta da santidade!
 
No período em que nos encontramos, chamado pela Igreja de “tempo comum”, as verdades do Evangelho são mostradas a todos pelo testemunho dos santos e santas que se consagraram a Cristo e são sinais luminosos de luta e de perfeição, além de reconhecidos como valorosos intercessores para aqueles que acreditam “na comunhão dos santos”, como dizemos na Profissão de Fé. E como sempre acontece, os santos de maior devoção geraram cultura e hábitos na sociedade. Multiplicam-se as festas patronais em nossa região, muitas pessoas retornam a sua terra natal para as férias que se aproximam e para se alimentarem de legítimas e positivas tradições religiosas que contribuem para que se tome consciência de que não nos inventamos a nós mesmos, mas somos tributários de uma magnífica herança, como tocha da grande olimpíada da vida a ser mantida acesa e passada às sucessivas gerações. São conhecidos de forma especial os santos do mês de junho, Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. São figuras que geraram cultura popular entre nós. 

Ponho em relevo, de modo especial, a figura de São João Batista, cujo nome, vida e missão são reconhecidos pela tarefa que a Providência Divina lhe confiou, como precursor da chegada do Messias, aquele que mostrou presente o Salvador do mundo, pregador da penitência, capaz de abrir, nos corações humanos, a estrada para que chegasse Aquele “que tira os pecados do mundo”, como foi por Ele mesmo apresentado (Cf. Jo 1,29). 

Um dia, Jesus recebeu emissários de João Batista com a pergunta sobre sua identidade de Messias. De fato, João se revelou sempre radical em suas escolhas e profundamente honesto em seu desejo de fidelidade à missão recebida. Mandou-lhe a magnífica resposta: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito!” (Mt 14,4-5). Às multidões de ontem e de hoje, Jesus fala sobre João Batista: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Olhai, os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem está escrito: 'Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho diante de ti'" (Mt 14,7-10). 

Viver para servir, ser honestos na procura da verdade e coerentes no comportamento. Com exemplos de tal quilate, descobrimos o quanto é bom viver para servir e amar. A vida e a missão de João Batista, unidas à sua oração fervorosa, nos façam acolher as verdadeiras alegrias vindas do Salvador e nossos passos se dirijam no caminho da salvação e da paz.

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

O rosário: como rezá-lo bem


Você reza o terço? Já viu imagens de Nossa Senhora representando-a tal como apareceu em Lourdes e em Fátima? Maria está com o terço na mão. Ela acompanhou silenciosamente, passando as contas, o terço que a menina Bernardete rezava na gruta de Lourdes. E, em Fátima, também com o terço na mão, a Santíssima Virgem pediu aos Três Pastorinhos que o rezassem todos os dias.Tomara que algum dia você possa dizer, como o Papa João Paulo II: «O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade!». Mas, para isso, será preciso que comece a rezá-lo e, se já o reza com frequência, que aprenda a fazê-lo cada dia melhor. Vamos ver como podemos fazer isso.Primeiro, vencer as dificuldades:1) Uma primeira dificuldade: “Não sei rezar o terço”, “Não conheço os vinte 'mistérios' (ou seja, os cinco correspondentes a cada um dos quatro 'terços' que compõem o rosário), não os sei de cor”. Solução: comprar logo, ou pedir a alguma pessoa amiga, algum folheto ou livrinho de orações (há muitos!) que traga a explicação dessa oração: como rezá-lo, quais são os mistérios, que mistérios devem ser rezados nos diferentes dias da semana… É fácil. Pessoas simples aprenderam tudo isso em pouco tempo. Se você “quer”- se “quer” mesmo - não lhes ficará atrás.Um esclarecimento: a pessoa que o reza sem conhecer ou lembrar os “mistérios” faz, mesmo assim, uma oração válida, ainda que, naturalmente, ele fique incompleto (mas é melhor rezá-lo incompleto do que não rezá-lo).2) Segunda dificuldade: “Não tenho terço” (o instrumento, o terço material, com as contas, a cruzinha, etc.; ou então o terço em forma de anel, que se usa girando no dedo). Compre-o, que é baratíssimo, e, enquanto não o tiver, conte nos dedos. Mas tenha em conta que vale a pena usar o terço material: se o seu terço (de contas ou de anel) foi bento por um padre ou diácono, ao usá-lo para rezar você ganhará indulgências (Por sinal, você sabia que pode ganhar nada menos que a indulgência plenária - com as devidas condições -, quando o reza em família, ou comunitariamente, num grupo?).3) Terceira dificuldade: “Não tenho tempo de rezar o terço”. Essa desculpa “não gruda”. O terço pode ser rezado, se for preciso, andando pela rua, fazendo exercício físico de corrida, indo de ônibus, metrô ou trem, guiando carro (melhor do que se irritar com o trânsito), na sala de espera do médico ou do laboratório, em casa, entre outros. E você pode rezá-lo sentado, andando, de joelhos e até deitado (se estiver doente ou em repouso forçado, etc.).Por sinal, não sei se você sabe que, nas livrarias católicas, são vendidos CDs com o rosário e que também há arquivos em áudio para player portátil. Basta ligar o áudio e ir respondendo ou acompanhando o que ouve.4) Finalmente, a dificuldade mais comum é a aparente monotonia. “Dizemos sempre a mesma coisa”. “A repetição de tantas Ave-Marias acaba ficando mecânica, cansativa, sem sentido”. “De que adianta fazer uma oração tão repetitiva, que fica rotineira, parece oração de papagaio…”?Deus faça que, após tê-las lido e, sobretudo, depois de tentar aplicá-las, você dê a razão às palavras de São Josemaria: «Há monotonia porque falta Amor».

Padre Francisco Faus



A dor que nos purifica


O sofrimento nos ajuda a escalar os cumes do amor a Deus 

A cruz e o sofrimento nos purificam, pois abrem nosso olhos para panoramas de vida maiores, mais verdadeiros e belos. O sofrimento nos ajuda a escalar os cumes do amor a Deus e do amor ao próximo.

São inúmeras as histórias de homens e mulheres que, sacudidos pelo sofrimento, acordaram, adquiriram uma nova visão – que antes era impedida pela vaidade, pela cobiça e pelas futilidades – e perceberam com olhos mais puros: o que vale a pena, de verdade, é Deus que nunca morre nem trai. Descobriram que n'Ele se encontra o verdadeiro amor pelo qual todos ansiamos e que nenhuma outra coisa consegue satisfazer. Entenderam que o importante são os tesouros no céu, pois estes nem a traça rói nem os ladrões arrebatam (cf. Mt 6,20). Perceberam, enfim, que os outros também sofrem, por isso decidiram se esquecer de si mesmos e dedicaram-se a aliviá-los e ajudá-los a bem sofrer.


É uma lição encorajadora verificar que, na vida de São Paulo, as tribulações se encadeavam umas às outras, sem parar, mas nunca o abatiam. É que ele não as via como um empecilho, mas como graça de Deus e garantia de fecundidade, de modo que podia dizer de todo o coração: "Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo" (2Cor 4,10). E ainda: "Sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo; porque quando me sinto fraco, então é que sou forte!" (2Cor 12,10). Até mesmo com entusiasmo: "Nós nos gloriamos das tribulações, pois sabemos que a tribulação produz a paciência; a paciência, a virtude comprovada; a virtude comprovada, a esperança. E a esperança não desilude, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rom 5,3-5).

É o retrato perfeito da alma que se agiganta no sofrimento, que se deixa abençoar pela cruz. Outro exemplo muito significativo. Uma perseguição injusta dos seus próprios confrades arrastou São João da Cruz a um cárcere imundo.
 Todos os dias, ele era chicoteado e insultado. Mal comia. Suportava frios e calores estarrecedores. Para ler um livro de oração, tinha de erguer-se nas pontas dos pés sobre um banquinho e apanhar um filete de luz que se filtrava por um buraco do teto. Foi nesses meses de prisão, num cubículo infecto, que ganhou o perfeito desprendimento, alcançou um grau indescritível de união com Deus e compôs, inundado de paz, a 'Noite escura da alma' e o 'Cântico espiritual', obras consideradas dois dos cumes mais altos da mística cristã. E, uma vez acabada a terrível provação, quando se referia aos seus torturadores, chamava-os, com sincero agradecimento, “os meus benfeitores”.

As histórias de mulheres e de homens santos, que se elevaram na dor, poderiam multiplicar-se até o infinito: mães heroicas, mártires da caridade... Daria para encher uma biblioteca só com a vida dos mártires do século XX, como São Maximiliano Kolbe, que, na sua cruz – na injustiça do campo de concentração nazista, nos tormentos, na morte –, achou e soube dar o amor e a vida com alegria.
Padre Francisco Faus

Como você tem rezado?


Aprenda a rezar para fazer a vontade de Deus



Os conteúdos da oração, como os de todo diálogo de amor, podem ser múltiplos e variados. Cabe, no entanto, destacar alguns especialmente significativos: 

Petição

É frequente a referência à oração impetratória ao longo de toda a Sagrada Escritura; também nos lábios de Jesus, que nos convida a pedir, encarecendo o valor e a importância de uma prece singela e confiada. A tradição cristã reiterou esse convite, pondo-a em prática de muitas maneiras: petição de perdão, petição pela própria salvação e pela dos demais, petição pela Igreja e pelo apostolado, petição pelas mais variadas necessidades, etc.

De fato, a oração de petição faz parte da experiência religiosa universal. O reconhecimento, ainda que em ocasiões difusas da realidade de Deus (ou mais genericamente de um ser superior), provoca a tendência a dirigir-se a Ele, solicitando Sua proteção e Sua ajuda. Certamente, a oração não se esgota na prece, mas a petição é manifestação decisiva da oração, assim como reconhecimento e expressão da condição criada do ser humano e de sua dependência absoluta de um Deus cujo amor a fé nos dá conhecer de maneira plena (cf. Catecismo, 2629.2635).
Ação de graças

O reconhecimento dos bens recebidos e, através deles, da magnificência e misericórdia divinas, impulsiona a dirigir o espírito a Deus para proclamar e lhe agradecer seus benefícios. A atitude de ação de graças, cheia desde o princípio até o fim a Sagrada Escritura e a história da espiritualidade. Uma e outra põem de manifesto que, quando essa atitude arraiga na alma, dá lugar a um processo que leva a reconhecer como dom divino todos os acontecimentos, não somente aquelas realidades que a experiência imediata acredita como gratificantes, mas também as aparentemente negativas ou adversas. 

Consciente de que o acontecer está situado sob o desígnio amoroso de Deus, o fiel sabe que tudo redunda no bem de quem – a cada homem – é objeto do amor divino (cf. Rm 8,28). São José Maria Escrivá ensina que: “Habitua-te a elevar o coração a Deus em ação de graças muitas vezes ao dia. - Porque te dá isto e aquilo. - Porque te desprezaram. - Porque não tens o que precisas, ou porque o tens. Porque fez tão formosa a sua Mãe, que é também tua Mãe. - Porque criou o Sol e a Lua e este animal e aquela planta. - Porque fez aquele homem eloqüente e a ti te fez difícil de palavra... Dá-Lhe graças por tudo, porque tudo é bom.”

Adoração e louvor

É parte essencial da oração reconhecer e proclamar a grandeza de Deus, a plenitude de seu ser, a infinitude de sua bondade e de seu amor. Ao louvor pode-se desembocar a partir da consideração da beleza e magnitude do universo, como acontece em múltiplos textos bíblicos (cf., por exemplo, Sal 19; Se 42, 15-25; Dn 3, 32-90) e em numerosas orações da tradição cristã; ou a partir das obras grandes e maravilhosas que Deus opera na história da salvação, como ocorre no Magnificat (Lc 1, 46-55) ou nos grandes hinos paulinos (ver, por exemplo, Ef 1, 3-14); ou de fatos pequenos e inclusive miúdos nos que se manifesta o amor de Deus.

Em todo caso, o que caracteriza o louvor é que nele o olhar vai diretamente a Deus mesmo, tal e como é em si, em sua perfeição ilimitada e infinita. O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus! Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz, por aquilo que Ele é. (Catecismo, 2639).

Está, por isso, intimamente unida à adoração, ao reconhecimento, não só intelectual, mas existencial, da pequenez de tudo criado em comparação com o Criador e, em consequência, à humildade, à aceitação da pessoa indignada ante quem nos transcende até o infinito; à maravilha que causa o fato de que esse Deus, ao que os anjos e o universo inteiro rendem homenagem, dignou-se não só a fixar seu olhar no homem, mas habitá-lo; mais ainda, a se encarnar.

Adoração, louvor, petição e ação de graças resumem as disposições de fundo, que informam a totalidade do diálogo entre o homem e Deus. Seja qual for o conteúdo concreto da oração, quem reza o faz sempre, de uma forma ou de outra, explícita ou implicitamente, adorando, louvando, suplicando, implorando ou dando graças a esse Deus ao qual reverencia, ao qual ama e no qual confia. Importa reiterar, ao mesmo tempo, que os conteúdos concretos da oração poderão ser muito variados. 

Em ocasiões se irá à oração para considerar passagens da Escritura, para aprofundar em alguma verdade cristã, para reviver a vida de Cristo, para sentir a proximidade de Santa Maria. Em outras, iniciará a partir da própria vida para participar a Deus das alegrias e os afãs, das ilusões e dos problemas que o existir comporta; ou para encontrar apoio e consolo; ou para examinar ante Deus o próprio comportamento e chegar a propósitos e decisões; ou, mais singelamente, para comentar com quem sabemos que nos ama as incidências da jornada.

Encontro entre o que crê e Deus em quem se apoia e pelo que se sabe amado, a oração pode versar sobre a totalidade das incidências que conformam o existir e sobre a totalidade dos sentimentos que pode experimentar o coração. Escreveste-me: “Orar é falar com Deus. Mas de quê?” - De quê? D'Ele e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias, fraquezas; e ações de graças e pedidos; e amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te - ganhar intimidade!”, ensinou São José Maria Escrivá.

Seguindo uma e outra via, a oração será sempre um encontro íntimo e filial entre o homem e Deus, que fomentará o sentido da proximidade divina e conduzirá a viver a cada dia da existência de cara a Deus.