sábado, 31 de dezembro de 2011

Silenciar-se é tão terapêutico como o expressar-se


No silêncio da alma encontra-se a presença de Deus

O silêncio das tardes parece ter se perdido no passado. As manhãs perderam o seu mistério no descortinar de um novo dia. O barulho ocupou todos os espaços que eram reservados ao silêncio. Em meio a um mundo agitado o silêncio foi, aos poucos, sendo esquecido.

Em pleno século XXI, o homem e a mulher contemporâneos redescobrem o valor do silêncio na confusa agitação da vida cotidiana. O que havia se perdido começa a ser redescoberto como fonte terapêutica. É grande o número de pessoas que procuram retiros e dias de pleno silêncio, nos quais podem estar desligadas das “redes sociais” e também da agitação da vida moderna.

Silenciar-se é tão terapêutico como o expressar-se. Desde a Antiguidade, principalmente entre os monges do deserto, conhecidos também como "Terapeutas do Deserto", o silêncio era uma riqueza terapêutica. Através dele homens e mulheres encontravam-se com Deus e consigo. Hoje o ser humano tem sede de silêncio e de paz. A agitação da vida moderna roubou este tesouro que pertence à alma.

Para os monges do deserto o silêncio era um remédio para a agitação que afligia o ser humano, pois nele [silêncio] a pessoa entra em contato com aquilo que ela possui de mais sagrado, ou seja, a sua própria alma. E nos recônditos da alma se encontram as respostas que tanto se busca para o cotidiano da vida. No silêncio da alma encontra-se a presença de Deus.

Acho complicado quem busca Deus na agitação dos megashows e encontros. Barulho, som em nível altíssimo, gritos... Fico me perguntando: Como será a experiência de alguém que faz um encontro consigo e com Deus em meio à tanta agitação? É possível esse encontro? Qual o nível de experiência espiritual que a pessoa leva para a sua vida cotidiana?

Parece-me tão lógico que o silêncio das tardes, das flores, da chuva, das paisagens, nos mostrem tão claramente que Deus se encontra lá, escondido no mistério... Como ouvir um amigo no meio de um show? Mesmo que ele grite ao nosso ouvido, vamos compreender, ainda que com muito esforço, absolutamente quase nada do que ele tentou nos dizer. Como pensar na vida participando de um show, mesmo que este seja cristão? O máximo que conseguiremos é voltar para casa com os tímpanos afetados pelos estragos dos altos decibéis.

A arte do silêncio consiste em ouvir a voz de Deus, que nos espera numa tarde serena, na chuva que irriga a terra para despertar a vida adormecida pela longa seca, nas flores que cumprem o seu papel de falar da beleza da vida, nas paisagens que revelam o mistério que não precisa de palavras...

Se no silêncio que cala toda agitação encontramos Deus, então também nos encontraremos com aquilo que sempre buscamos: nós mesmos. Onde tudo se cala o mistério da vida nos aponta a beleza do que não pode ser expresso verbalmente.



Padre Flávio Sobreiro

Dizer 'sim' e dizer 'não'


Quando dizemos "não" a nós mesmos aprendemos a autodisciplina

Você já notou como lida com seus impulsos, com aquela vontade irresistível de fazer algo? Controlar nossos impulsos significa o quanto conseguimos ser capazes de adiar a gratificação por algo e, com isso, fazer escolhas mais inteligentes ou adaptáveis. Sabe o que é mais interessante: o controle dos impulsos se dá em nossa infância, quando lidamos com as primeiras frustrações e gratificações.

Quando dizemos “não” a nós mesmos, aprendemos a autodisciplina, palavra tão conhecida entre nós e citada em revistas, artigos, programas de TV. Essa habilidade é capaz de gerar felicidade e sucesso.

Nisso começa o desafio dos pais, cuidadores, professores, pois crianças nunca aprendem a autodisciplina sozinhas, mas também não aprendem na escola ou na sala de aula. Não há curso para isso [autodisciplina]. Aí entra a habilidade dos pais em dar limites aos filhos e ensiná-los que, para cada ato, há uma consequência, que as escolhas levam a determinados caminhos, positivos ou negativos.

Ao deixar claro para uma criança quais as expectativas que se tem sobre algo ou os limites e o resultado sobre aquilo que não se cumpriu, tudo fica mais claro. Ou seja, a criança aprende, desde pequena, que, se optar por algo errado, receberá sua escolha em troca, experimentando o resultado negativo das escolhas feitas. 

O que é mais complicado quando é necessário dizer “não” para seu filho? Muitos pais podem dizer que a dificuldade está em ver que o filho ficou infeliz, ficou triste, desapontado. Claro que, como pais, o que se tenta fazer muitas vezes é, de fato, evitar o sofrimento, mas isso se torna uma forma enganosa de proteger. Será muito mais produtivo dar aos filhos formas de lidar com a perda e, com isso, criar formas de “amortecer” as situações e lindar com os obstáculos da vida.

Dizer “não” é muito mais complicado do que dizer “sim”; porém, olhando para o futuro os resultados de um “sim” e um “não”, no tempo certo, fazem toda a diferença quando seu filho for adolescente ou adulto. Não diga “sim” para acalmar o choro ou a irritação do seu filho, mas diga “sim” quando é necessário e “não” sempre que preciso, para que não colha dificuldades em longo prazo.

Na autenticidade e na democracia da relação pai e filho, nos dias atuais, cresce e liberdade em dizer o que se pensa e posicionar-se, porém, não podemos nos esquecer do papel de modelagem de comportamento que damos ao filhos. “Ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os seus limites — e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo que se deseja na vida. É necessário que a criança interiorize a ideia de que poderá fazer muitas, milhares, a maioria das coisas que deseja — mas nem tudo e nem sempre. Essa diferença pode parecer sutil, mas é fundamental.” (Zagury, T.)

Esse é o desafio da persistência, do amor, do cuidado e da certeza que um “sim” e um “não” bem colocados, e ao seu tempo, farão toda a diferença na construção de adultos saudáveis e resistentes aos embates da vida.

2012 será o ano da vitória de Deus para nós!


O ser humano é capaz de mudar

"Ano novo, vida nova!" , "Próspero Ano Novo!" , "Que tudo de bom aconteça!", "Muita paz, saúde e dinheiro no bolso!", entre outras. São frases que sempre ouvimos nesta época do ano. Estive pensando no que está por trás desses dizeres... Eles são expressões do desejo do ser humano de ser feliz; expressões da capacidade humana de sonhar com um mundo melhor. Expressões da esperança que, graças a Deus, teima em não morrer em nossos corações. Porém, este desejo, estes sonhos, esta esperança, – para muita gente –, acabam se tornando, a cada ano, apenas ilusões e fantasias que não se concretizam.

Como fazer para que o ano novo seja melhor para nossas vidas?

O ser humano é capaz de mudar. Mas só isso não é suficiente. Ele só é feliz se melhorar. Mudar é importante, mais que isso: melhorar é essencial para a realização humana. Tudo bem.

Então, como você pode melhorar? Como eu posso fazê-lo? Eu creio (e tenho experimentado isso, assim como milhares de pessoas) que só melhoramos se formos impulsionados por algo além dos limites de nossa querida, porém, frágil, humanidade. Eu tenho visto muitas melhoras em minha vida sempre que deixo a graça de Deus – que vai infinitamente além dos meus limites – agir em minha vida.

Interessante é que descobri algo novo, para mim, neste fim de ano: RÉVEILLON vem do verbo "reveiller" do francês, que quer dizer: "Despertar". Mais do que nunca, eu creio e propago: "Quer viver o ano de 2012 excelente e abençoado?" Viva um Réveillon verdadeiro. O ano inteiro. O Réveillon para Deus! O Despertar para Deus! Que a graça infinita do Senhor, e que o Espírito Santo o desperte e me desperte para Ele. Acordemos, despertemos, irmãos! Reconheçamos em que temos deixado a desejar diante do Senhor. Reconheçamos nossos pecados. Convido você a orar comigo com uma sólida decisão de mudança:

"Acorda-me, Senhor, para Ti! Desperta minha alma de toda sonolência. Reinflama meu relacionamento Contigo, Jesus! Reinflama minha fé em Tuas promessas! Reinflama meu fervor para ser Igreja! Reinflama meu desejo de evangelizar!"

Se por um lado, precisamos louvar a Deus por todas as maravilhas que Ele já fez em 2011; por outro, o plano d’Ele só se cumprirá em nossas vidas em 2012 se tivermos o desejo ardente de experimentar um novo "despertar espiritual", um reinflamar da unção do Espírito Santo em nós.

Proclamamos pela fé: 2012 será o ano da vitória de Deus para nós! 

domingo, 11 de dezembro de 2011

Contra a traição não há vacina, só antídoto


Quem ama perdoa, supera e segue em frente

Confiança é um artigo raro no “mercado” atual. Fomos condicionados a desconfiar de tudo e de todos, acreditando que todos são suspeitos até que se prove o contrário. O pior é quando lutamos, ultrapassamos essa ideologia e acabamos decepcionados pelas pessoas. Voltamos à estaca zero e, agora, voltar a confiar em alguém é muito mais difícil.
Isso se complica muito mais quando falamos de amizade. Um amigo é aquele que é nosso aliado, companheiro, protetor. Sendo assim, se nos deparamos com atitudes que contrariam essa definição natural, a decepção é muito maior. De um pai se espera proteção. De um amigo se espera aliança, confiança. Essa é a ordem natural e contrariá-la é criar feridas profundas em nossos corações.
Mas para isso não há vacina. Quem toma a firme decisão de amar alguém de verdade, também está colocando a sua "cara à tapa"; está se arriscando em se decepcionar, em ser traído. Quem ama se arrisca e, por se arriscar, se realiza, é feliz. Não tem jeito! Contra traição não há vacina, só antídoto.
Podemos chamar de vacina qualquer espécie de vírus atenuado que, ao ser introduzido no organismo, causa certas reações e a formação de anticorpos, os quais tornam o organismo imune àquele vírus. Não podemos imunizar o nosso coração contra as possíveis decepções de uma amizade, pois quem cria anticorpos contra a possibilidade de ser amado acaba morrendo. Com medo de ser traído, não se deixa mais amar, não ama e morre.
Mas se não existe vacina para a decepção, para a traição, existe antídoto. Um antídoto é um medicamento empregado com o fim de inativar a ação de outro; é um contraveneno. O melhor antídoto para qualquer decepção com um amigo é uma outra amizade. Só é curado de uma decepção quem se arrisca novamente e se permite também correr o risco de ser amado. Quem se abre a um novo relacionamento, se abre para ser cuidado, para amar, para estabelecer confiança, proteção, companheirismo. Para haver cura é preciso haver abertura, e não há melhor forma de ser curado do que amar e ser amado.
Pode ser difícil no começo, mas pouco a pouco, aqueles que corajosamente se arriscam no amor podem experimentar o seu poder curativo. Poderão ver de forma concreta que a cada passo que é dado as suas feridas vão cicatrizando. A possibilidade de amar e ser amado cria novos ares, novas esperanças em nossa vida. O coração é um músculo e para ele não atrofiar, o melhor exercício é amar.
Ninguém recomeça a amar sozinho. É difícil encaramos tantas feridas de uma vez só. Precisamos de ajuda, de Alguém que entenda o nosso processo e nos ajude em cada passo. Para isso não há um treinador melhor do que Deus: o próprio Amor. O Senhor sabe de nossos limites, das nossas dores, das nossas dificuldades. Ele mesmo foi traído e abandonado pelos amigos d'Ele. Mas a cruz que poderia se tornar, naquele momento, o maior sinal de abandono, com o Seu sacrifício, se tornou o maior ato de amor. Jesus experimentou as nossas dores, mas não parou nelas. É isso que Ele quer nos ensinar e por isso não nos deixa sozinhos. Ele vai conosco, supera os obstáculos, ensina-nos a perdoar e nos faz vencer no amor. Mas Ele não pode nos obrigar. Ele precisa da nossa decisão, da nossa abertura.
Talvez você tenha sido traído por um amigo e se fechou a outras possibilidades de amizade. Olhe para você e poderá perceber que seu coração está atrofiando. Peça ajuda ao Senhor e volte a amar. Abra-se novamente, dê esse passo. Pode até doer nos primeiros dias de exercício, pois seu coração estava muito tempo parado, mas depois ele vai ganhar ritmo e amar com toda potência. Deus está com você, como um Amigo, só esperando a sua decisão para ajudá-lo a superar. Recomece as suas amizades a partir do Senhor. Quem ama perdoa, supera e segue em frente. Arrisque-se novamente e experimente, em Deus, um novo começo, uma vida nova, a ressurreição do seu coração.

A força do perdão


O ressentido é refém dos acontecimentos, da história ferida...

Ao tratarmos o tema do perdão dentro do dinamismo da vida cristã, precisamos reconhecer que não é fácil perdoar, porém, não é impossível, mas, extremamente necessário. Quando tomamos consciência da força destrutiva do ressentimento, das mágoas, dos rancores, enfim, de todos os maus sentimentos que norteiam os relacionamentos feridos e mal resolvidos, passamos a entender que tal resolução [perdão], tendo por referência essencial o amor de Deus e não a ferida, não é opcional para os que anseiam o céu, mas uma condição primordial de salvação.

A Sagrada Escritura é composto de vários textos que tratam sobre a importância do perdão: “Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; más se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos” (Mt. 6, 14). Segundo o expressar desse texto bíblico, não perdoar significa perder o perdão de Deus, ou seja, apartar-se da Misericórdia Divina. 

Tendo em vista que perdoar significa não guardar mais o mal, quem não perdoa faz comunhão com as trevas, com o mal. E como somos chamados a viver em comunhão com a bondade, e o valor da nossa eleição está na contínua abertura ao amor, tocar nesses sentimentos mal resolvidos é uma necessidade da alma! Pois, a história da humanidade demostra claramente que a resposta da vida é fruto do que reina no coração. Diante de tal questionamento, respondamos: O que tem reinado no meu íntimo?

O ressentido é refém dos acontecimentos, da história ferida, dos seus “vitimalismos” e razões altamente justificadas. O segredo da liberdade e da vida na graça de Deus é ver e rever a ferida no amor, no Amado de nossas almas, pois somente nessa perspectiva a cura do coração será total. 

Agir contrariamente a essa verdade significa pôr em jogo a própria salvação, porque o Reino dos céus é para os misericordiosos. É a ordem do amor que coloca a vida na dinâmica das bem-aventuranças: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7). Ou seja, uma operação concreta de perdão nos relacionamentos rompe definitivamente com as trevas dos maus sentimentos.

No livro do Eclesiástico encontramos um forte exemplo de como devemos nos comprometer com a verdade salvífica do perdão: “Perdoa ao teu próximo o mal que te fez, e teus pecados serão perdoados quando o pedires. Um homem guarda rancor contra outro homem, e pede a Deus a sua cura! Não tem misericórdia para com o seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados! Ele, que é apenas carne, guarda rancor, e pede a Deus que lhe seja propício! Quem, então, lhe conseguirá o perdão de seus pecados? Lembra-te do teu fim, e põe termo às tuas inimizades...” (Eclo 28, 2-6). 

É muito cruel pensarmos que as inimizades não resolvidas nesta vida terrena nos levarão à eterna inimizade com Deus, isto é, ao inferno. Sofrer com tais sentimentos nesta vida e ainda por cima sofrer eternamente pela falta de decisão no amor e no perdão é muito entristecedor!

A conversão pelas vias do perdão é o caminho da alegria, da vida de Deus, de um trilhar santificante, libertador e salvífico! Um interior saudável e revelador de eternidade é o resultado desse processo íntimo de conversão e reconciliação, na força do amor e do perdão. Contrariamente a esse processo, constatamos facilmente o fruto colhido na vida daqueles que não decidiram pela misericórdia, permitindo então o reinado dos maus sentimentos: desânimo, tristeza, amargura, frustração, angústia, negativismo, murmuração, revolta, raiva, ira, impulso autodestrutivo, vingança, egoísmo, autopiedade, entre outros. Por isso, olhemos para o nosso íntimo e tomemos a decisão que nos reconcilia com Deus e os irmãos, decidamo-nos pelo céu, pelo amor e pelo perdão! Sigamos o conselho do livro do Eclesiástico: “[...] Lembra-te do teu fim, e põe fim às tuas inimizades...” (Eclo 28, 6a). 

Padre Eliano Luiz Gonçalves, sjs. (Fraternidade Jesus Salvador)

O namoro chegou ao fim


A pior solidão talvez seja aquela que se experimenta nas relações


E o namoro acabou... E com ele se foram sonhos, planos, certezas. Parece que a melhor coisa que havia na sua vida foi perdida: Ou a pessoa com quem você namorou; ou o próprio namoro. Você já pensou nisso - Do que você sente mais falta: Da pessoa com quem você se relacionou, ou da relação? O que você acha de si mesmo hoje? Aquela pessoa que partiu, o que ela representava para você? Aquela pessoa pode ter sido alguém que te mostrou o teu valor (e você passa a achar que só vale alguma coisa aos olhos dela). Quanta coisa você aprendeu com aquela pessoa? Quanto você sofreu com essa relação, acreditando, buscando, se dedicando?
Quanta coisa boa você descobriu em si mesmo, das quais nem mesmo se dava conta? São tantas as coisas que precisamos avaliar ao fim de um namoro! O namoro acabou... Você já tentou de tudo, mas o vaso quebrou. Alguns ficam ainda tentando remendar... Não dá! É então necessário um tempo... Mas quem aceita? Busca-se desesperadamente alguma coisa que ocupe o lugar daquele relacionamento que terminou. Alguns caem na bebedeira, outros ficam desesperados por uma festa, e a maioria sai desesperado em busca de novos relacionamentos. E aí está um problema: Como se pode pensar em começar algo novo, se não foi assimilado aquilo que foi vivido?
O grande sinal de que é necessário um tempo de solidão é exatamente a dificuldade que há em encarar o vazio deixado. Esse tempo de solidão é necessário para avaliar aquilo que foi fecundado durante aquele relacionamento anterior. É necessário também, pois com certeza quando se sai de um relacionamento assim, se sai muito machucado... é necessário um tempo para que as feridas cicatrizem. Quantas pessoas, a fim de sair da ‘fossa’ acabam se agarrando à primeira ilusão que surge? E quantos sofrem por isso? Quantos estragam a nova relação, comparando com a anterior (e isso só aumenta a saudade do que se foi), ou levando para a nova relação todos os vícios que foram adquiridos? É preciso encarar. O namoro acabou; o vaso quebrou. É hora de transferir o líquido para um odre novo. Só Deus pode fazer um odre novo, e é Ele também quem te resgata, quem impede que o líquido (seus sonhos, esperanças, planos) escoe e se perca. E nesse odre novo é que você vai se derramar. Mas assim que a água é despejada, o que você vê? Turbulência. É essa a turbulência que você experimenta naquele primeiro momento. Mas se você espera um pouco, deixando aquela água aquietar-se, o que acontece quando você for olhá-la novamente?
Você pode contemplar o seu reflexo! E somente quando esperamos nossas inquietações acalmarem, temos condições de realmente entender o que foi trocado naquela relação; o que foi fecundado; o que foi doado... E se ficar sem aquela pessoa dói tanto, pare para pensar: O que você não consegue fazer sozinho? Qual o pensamento mais frequente agora que está sozinho outra vez?
O que você vale? Veja bem: Deus disse que não é bom que o homem fique só (cf. Gen 2,18). Mas a pior solidão talvez seja aquela que se experimenta nas relações em que falta o amor. O amor a Deus sobre todas as coisas, o amor a si mesmo, e o amor um ao outro. Muitas pessoas se engajam nesses namoros para disfarçarem suas dificuldades sociais, familiares ou afetivas. É hora de deixar o amor de Deus falar mais alto, e confiar na palavra Dele, que criou, para o homem, uma ajuda que lhe seja adequada (cf. Gen 2,18). Você, homem, mulher, que hoje vive a espera, confie na ação de Deus na sua vida, acredite que há uma pessoa adequada para você. Basta você viver de acordo com aquilo em que acredita, e não em função das feridas acumuladas. Hoje já é tempo de você honrar, respeitar e dignificar a esposa, o esposo, os filhos que Deus tem para você. Confiar em Deus é viver essa esperança a cada dia. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Para entender a vida em Cristo


Muitas vezes nos oferecemos a Deus, mas impomos condições

Para entender a vida nova em Cristo, tomemos o texto da Carta de São Paulo aos Romanos, capítulo 12. São Paulo nos exorta a nos oferecermos, sem reservas, sem medidas, a nos entregarmos a Deus. O grande problema é que nós nos oferecemos a Deus, mas impomos condições. O apóstolo dos gentios vai mais além, exortando-nos a oferecer os nossos corpos. Porém, às vezes, dizemos: "Senhor, eu te entrego meu coração", mas Deus nos quer de corpo inteiro. Ofereçamo-nos por inteiro como Nossa Senhora o fez. Quando Maria disse: "Eis aqui a escrava do Senhor", estava se oferecendo sem reservas ao Senhor, porque o escravo não tinha direitos, estava completamente na mão do seu dono, que tinha sobre ele o poder da vida e da morte.

Como Nossa Senhora, somos chamados hoje a dizer: "Senhor, eu sou teu escravo, eu me ofereço por inteiro de forma santa e agradável." Este é o verdadeiro culto espiritual a Deus. Oferecer-se como hóstia viva é a vida em Cristo.

A maturidade de uma vida em Cristo é conseguir viver, o quanto mais plenamente, as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Então, a maturidade na fé é crer, esperar e amar.

A meta e a busca, o ideal do cristão batizado é ser uma pessoa que crê, que espera e que ama. O grande problema é que perdemos o referencial, a impressão que temos é de que não existe um modelo a ser seguido, cada um cria o seu próprio modelo. Jesus deve ser nosso referencial de vida. Cristo é o homem maduro na fé, porque viveu na plenitude as virtudes teologais: Ele é o homem que crê, que espera e que ama.

Em nosso itinerário espiritual, essa é a referência, sempre partir desse ponto: eu quero, eu busco, eu almejo, eu tenho sede de ser uma pessoa que crê, que espera e que ama.

Contudo, mesmo a partir desse referencial, temos muita dificuldade para viver essa maturidade, por causa de algumas patologias espirituais, porque perdemos os senso do pecado, porque não nos oferecemos a Deus. No nosso itinerário espiritual, na nossa vida com Cristo, nós vamos com reservas, não nos jogamos, não nos lançamos, não entregamos tudo, por isso, não progredimos na fé.

Na nossa condição natural de ser humano, precisamos de Deus, temos uma sede de algo mais. No entanto, podemos perceber que alguns estão com a alma vazia, outros estão com a alma árida, outros estão com a alma sedenta.

O objetivo último do ser humano, na sua natureza, é Deus. A religião não é um ópio, não é alienação. O verdadeiro culto a Deus não engessa, não nos faz puritanos, não nos leva a uma patologia; pelo contrário, o verdadeiro culto a Deus nos potencializa, nos expande, nos transborda.

Com isso digo que, se há muita tristeza, desejo de suicídio, angústia, melancolia, neurose, pode ser algo emocional, mas com certeza é a ausência da água que dessedenta, que Jesus prometeu dizendo: "Quem beber dessa água não terá mais sede" (Jo 4, 14).

Então, estou afirmando que a maioria daqueles que se dizem iniciados na fé, que a maioria dos que comungam e se dizem cristãos, estão doentes na vida espiritual. Há tantas pessoas inseguras na fé, porque estão sentindo um vazio do tamanho de Deus. O vazio que sentimos só pode ser preenchido pelo Todo-poderoso.
Padre Reginaldo Manzotti

O que dizer sobre o suicídio?


Por mais debilitada e fraca que seja a vida, ela é um belo dom de Deus



A Igreja sempre ensinou que não somos proprietários da nossa vida, e sim Deus, por isso não podemos pôr fim a ela.



“Cada um é responsável por sua vida diante de Deus, que lhe deu e que dela é sempre o único e soberano Senhor. Devemos receber a vida com reconhecimento e preservá-la para honra dele e salvação de nossas almas. Somos os administradores e não os proprietários da vida que Deus nos confiou. Não podemos dispor dela” (Catecismo da Igreja Católica § 2280).

Por isso, o suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano a conservar e perpetuar a própria vida. É gravemente contrário ao justo amor de si mesmo. O suicídio ofende também o amor do próximo, porque rompe injustamente a comunhão com as pessoas amadas da família e da sociedade. E, muitas vezes, a família pode ficar desamparada com a morte do pai ou da mãe. E, sobretudo, ele [suicídio] é contrário ao amor do Deus vivo.

A prática do suicídio torna-se mais grave ainda se for usado como exemplo, especialmente para os jovens, para justificar que a vida não tem sentido e que por isso se pode eliminá-la. Uma mentalidade pagã que tem como único sentido para a vida o prazer, e quando este não é possível, pode querer suprimi-la. Cooperar com o suicídio de alguém é também falta grave. Infelizmente, alguns filósofos ateus propunham e ainda propõem essa prática [suicídio] diante de uma vida que consideram um absurdo e sem sentido. A vida humana, por mais debilitada e fraca que seja, é um belo dom de Deus, ensinava o saudoso Papa João Paulo II; e de forma alguma pode ser eliminada pela pessoa.

Infelizmente, hoje há “clínicas para matar” em países como a Holanda, Bélgica e Suíça, onde o “suicídio assistido” é legal. Então a pessoa chega viva a essas clínicas e sai morta delas. Uma gravíssima ofensa a Deus e à sociedade. Nos Estados Unidos da América faleceu há pouco alguém que ficou chamado de “doutor morte”, que inventou uma máquina para a pessoa se suicidar “sem sofrimento”.

Os eleitores de Zurique, Suíça, rejeitaram em 2010, em referendo, propostas para vetar o suicídio assistido e o "turismo do suicídio", que é a chegada ao país de estrangeiros em busca da morte. O suicídio assistido é permitido nesse país desde 1941. Estrangeiros terminais vão ao país europeu para cometer suicídio, aproveitando regras do país, um dos mais liberais do mundo. (Folha de São Paulo, 16/5/2011).

Mas a Igreja reconhece que as motivações ao suicídio podem ser complexas. Não podemos dizer que aquele que se suicidou esteja condenado por Deus. Antigamente muitos pensavam assim, mas a Igreja não confirma isso. Diz o Catecismo da Igreja Católica que: “Distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida” (CIC § 2282).

Sabemos que um momento grave de depressão, desespero, angústia prolongada, entre outros, podem debilitar psiquicamente a pessoa de maneira tão grave que ela possa buscar refúgio na morte, mesmo sem a desejar em si mesmo. Por isso a Igreja recomenda rezar pela alma do suicida, sem se desesperar de sua salvação.

Nosso Catecismo deixa claro que: “Não se deve desesperar da salvação das pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida” (CIC § 2283).

O importante, então, é não se desesperar com a morte suicida da pessoa amada, mas oferecer a Deus por ela as orações e, principalmente, a Santa Missa pela salvação e sufrágio de sua alma.

Na biografia de São João Maria Vianney há um fato muito interessante. O santo celebrava a Missa e notou uma senhora vestida de preto chorando no fundo a igreja; seu marido havia se suicidado havia dias. No final da Celebração Eucarística esse santo foi ao encontro dela e disse-lhe: “Pode parar de chorar, seu marido se salvou, está no Purgatório. Reze pela alma dele”. Quando ela quis saber como, o santo respondeu: “Você se lembra que no mês de maio você rezava a Nossa Senhora, e ele, de vez em quando rezava com você; por isso ele foi salvo, Nossa Senhora conseguiu para ele a graça do arrependimento no último instante de vida”

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Semáforos interiores


O coração humano é um grande sinaleiro  

Um dos sinais de trânsito mais conhecidos é o semáforo. Este sinalizador é de fundamental importância para a segurança dos pedestres e dos motoristas. Desobedecê-lo é colocar em risco a própria vida e também a de outras pessoas. Muitos já desobedeceram ao que o semáforo indicava e o resultado não foi bom. Ou foram vítimas de um acidente ou então receberam uma multa.

Segundo o Código Nacional de Trânsito, avançar um sinal vermelho é uma violação gravíssima às normas impostas. O motorista que comete tal falta perde sete pontos em sua carteira de habilitação. Diante de tal gravidade que pode ocorrer quando o sinal está vermelho, melhor será para o condutor do veículo obedecer.

No entanto, sabemos que nem todos os motoristas e pedestres respeitam os sinais de um semáforo. Diante da imprudência de tal atitude o resultado nem sempre é positivo. Muitos já perderam a vida e outros tantos a roubaram de seus semelhantes. Atitudes inconsequentes têm resultados trágicos.

O coração humano é um grande semáforo. Ele nos indica qual a postura que devemos ter diante das mais variadas situações da vida. Porém, é preciso reconhecer as cores que nos indicam o que devemos fazer diante das encruzilhadas de nossas opções!

Sinal vermelho do semáforo do nosso coração indica que é tempo de parar. A pressa em chegar pode nos fazer provar o amargo das emoções que ainda estão verdes. Ultrapassar o sinal vermelho é arriscado e perigoso. Podemos causar acidentes que deixarão graves sequelas no coração de quem não era culpado.

Respeitar o pedestre é sempre prioridade nas leis de trânsito. Nas leis do coração a mesma atitude é fundamental. Respeitar aqueles que cruzam as esquinas de nossa alma e caminham lado a lado conosco é atitude de um cristão consciente!

Sinal amarelo é sempre de atenção. Olhar para os dois lados da vida e ver qual deles nos oferece mais segurança! Parar e observar se a nossa pressa não poderá ser interrompida por alguém que vem em alta velocidade e ainda não aprendeu a respeitar os semáforos de nosso coração é imprescindível. Buscar a segurança necessária para que não sejamos vítimas de nossos próprios descuidos é cuidar com atenção de nosso coração.

A esperança é verde. Quando o semáforo de nossa alma nos indicar que podemos seguir em frente não hesitemos. Com segurança poderemos trilhar os mais belos caminhos e descobrir as mais lindas paisagens escondidas nas curvas de nossa alma.

Há muitos corações congestionados com sentimentos confusos. Há ainda semáforos queimados que precisam ser trocados. Um semáforo que não serve para nos indicar com segurança o nosso caminho se torna sucata. Jesus é o grande Semáforo da nossa vida. Ele nos indica qual é o melhor caminho que devemos seguir.

Nem sempre o verde da esperança estará nos indicando que podemos seguir em segurança. O vermelho do proibido, muitas vezes, vai salvar nossa vida de tristes acidentes emocionais. A atenção do amarelo vai nos garantir que precisamos parar e olhar para a vida com mais cuidado.

Para a pecadora arrependida o vermelho da hora de parar foi aceso. O jovem rico recebeu o sinal amarelo da atenção: era preciso parar e rever as escolhas que estava fazendo. Judas estava com o semáforo de seus sentimentos quebrado. Não havia prestado atenção que o sinal amarelo indicava o vermelho que iria chegar. Não olhou e foi atropelado pelos próprios erros. Maria Madalena descobriu em uma manhã de ressurreição o sinal verde de novas possibilidades.

Nos semáforos do coração encontramos a segurança necessária para caminharmos pela vida de mãos dadas com um tempo novo. Jesus nos dá sinais de trânsito livre e seguro no cotidiano dos congestionamentos de nossa alma.



Padre Flávio Sobreiro

Terapia do abraço




Estamos nos condicionando a ter o mínimo de contato com o ser humano....

Vivemos em tempos de medo! Muito do que empreendemos tem por conta o zelo pela nossa segurança. Os homens querem cercar-se de garantias para estar a salvo: da vida afetiva, profissional e econômica à integridade física.

É tanta cautela, que todos esses procedimentos tomados têm cada vez mais afastado as pessoas e formado um ser humano desequilibrado e frio. São grades que engaiolam crianças, blindagens contra a liberdade, ensinamentos que não transmitimos por medo de perder o cargo, mãos que não selam acordos. Estamos nos condicionando a ter o mínimo de contato com o ser humano.

Somos seres dotados de afetividade. Afetividade é o que afeta, interfere no íntimo da pessoa. O gênero humano tem por aspiração o ser comunitário. Precisamos viver juntos, necessitamos uns dos outros.

Sentimentos e afetos são parte do todo do ser humano. São faculdades que proporcionam cor e intensidade a cada momento e circunstância da nossa vida e trazem significado em nosso interior sobre pessoas e acontecimentos. Juntamente com o lado racional, as emoções também são alicerces para tomadas de decisão.

Daí, a importância de cultivarmos boas emoções, estarmos sadios afetivamente. E isso acontece por meio do relacionamento, das conversas, da procura da concórdia, dos gestos que demonstram carinho e consideração. Contudo, depois daquele agradável encontro ou ao ser gerada uma boa impressão a respeito de alguém, quando entendemos que amamos e somos amados, o que vem a ser o penhor e coroar todo tipo de relacionamento são as diversas formas de contato, como o toque, o aperto de mãos, o abraço, o beijo, o afago, entre outros. Gestos muito importantes na construção de nossa afetividade, que geram homens e mulheres sadios emocionalmente, pois ao sentirmos o amor pelo calor humano conectamos a impressão psicológica e espiritual ao que experimentamos fisicamente.

Então a partir daí todo gesto de amor que recebemos pode ser sentido pelas três instâncias do ser: Física, Psiquica e Espiritual.
Um exemplo é quando um indivíduo sabe que sua família o ama pelas palavras proferidas ou pelo sustento que lhe garantido, mas se não há o carinho físico, fica faltando uma dimensão.

O amor manifestado para o todo (três dimensões) do ser humano gera segurança e autoconfiança. Sentir a mão de quem amamos nos passa a sensação concreta de porto seguro. Dá uma percepção palpável do amor que antes intuímos pelo lado racional e na alma.

Jesus tocava os doentes e abraçava as crianças e, um dia, disse ao fariseu que O convidou para jantar: “Não me deste o ósculo (beijo); mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés” (Lc 7, 45). Em referência àquela pecadora que, em seu gesto, demonstrou um amor no qual o anfitrião não o manifestava (cf. Lc 7, 47). Da mesma forma os apóstolos também tocavam nos enfermos e assim ministravam a cura “quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados” (cf. Mc 16, 17-18).

Quem sabe hoje não precisemos abraçar alguém que há muito não trazemos para perto do coração e deixemos calar as mágoas passadas num gesto que é imprescindivelmente humano? Talvez até pessoas da nossa família, de dentro de nossa casa que há tempos não sentimos o calor nem o perfume, porque não mais nos aproximamos.

Diminuamos as distâncias e construamos pontes de amor que nos liguem a outras pessoas. Não tenhamos medo de apertar a mão ou envolver com um abraço aquele(a) que não é ainda parte do nosso círculo de amizades. Este gesto pode salvar uma alma. Há muita gente por aí precisando de um abraço, nos hospitais, prisões, asilos ou talvez no trabalho, na escola, alguém que esteja próximo fisicamente de nós. Vidas gritam por isso!


Um grande abraço a você!

Deus o abençoe!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Perseverança, a medida cert

A esperança é a seiva motriz da vida


Uma maneira concreta de extrair a vida de alguém é roubar os sonhos que lhe são próprios. Nossos sonhos e esperanças são a força que faz a vida desabrochar dentro de nós. É triste, mas infelizmente real, nos encontrarmos contemporaneamente com muitas pessoas que já deixaram de sonhar e de acreditar que a vida pode ser melhor, que o sonho pode se encarnar e que a esperança pode florescer.

Não é custoso perceber que, na maioria das vezes, as frustrações acontecem porque se espera por coisas que não deveriam ser buscadas (esperadas). Confia-se em promessas irreais e, por fim, acaba não existindo uma concreta perseverança naquilo que é essencial e que deveria realmente ser buscado.
Existem muitos que apostam “tudo” em ilusões e em relacionamentos desleais (impossíveis), pautando a vida em realidades sem um fundamento que possa, verdadeiramente, saciar a ausência presente na vida e no coração.

A esperança é, sem dúvida alguma, a seiva motriz da vida. Porém, é preciso esperar bem, aprendendo a escolher sabiamente em quem esperar, para que assim a perseverança e a luta pelo que se sonha sejam possíveis e, esse sonho possa verdadeiramente assumir cores de realidade.
Quando se luta por sonhos ancorados em um fundamento além de nós mesmos, em que as esperanças se prendem a elementos de eternidade e se construam sob a lógica do amor, a vida começa, de fato, a ter e a ser sentido.

É preciso sonhar bem com realidades nas quais não esteja em jogo somente a “minha” (egoísta) felicidade. No ato de sonhar precisam estar contidas realizações que despertem, também em outros, a vontade de sonhar.

Enfim, detectada a veracidade e a consistência de nossa esperança (sonho), é necessário que nos lancemos no universo da perseverança, para que assim possamos construir o que buscamos, e isso a partir de nossa luta e persistência. Isso mesmo: persistência. É preciso perseguirmos nossos ideais sem nos determos nos “encantos” do caminho.

Existem muitos sonhos que o próprio Criador compôs dentro de nós. Esses são sempre possíveis e reais e necessitam de nossa perseverança para se concretizarem.
Quando o desânimo e o cansaço, sintomas próprios do caminhar, fizerem morada dentro de nós, precisaremos reagir aos mesmos ,munidos da força da perseverança e do espírito de luta, pois a perseverança é sempre a medida certa para grandes realizações.

Sem perseverança e persistência não poderá haver uma real vitória. Sem uma luta persistente, nosso sonho continuará apenas sonho. São nossas iniciativas – aliadas a um Amor maior – que os poderão trazer, com intensidade, ao protagonismo da realidade (da nossa vida).
Mesmo quando nosso sonho parecer cair por terra, faz-se necessário continuar crendo e perseverando, cientes de que toda vitória é precedida por algumas quedas e por uma concreta “não desistência”.

Independentemente do quanto já foi percorrido ou ainda falta caminhar, necessário e bom é prosseguir perseguindo a meta, não deixando de acreditar diante dos insucessos e sabendo que a perseverança é a medida certa para toda e qualquer vitória.

Não desista de seus sonhos e lute, lute sempre, pois, a vida reserva belas surpresas para aqueles que não desistem dela.

Coragem!

Pe. Adriano Zandoná

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Namorar é sempre a solução?


Antes de se viver o nós, é preciso trabalhar o "Eu"

Antes de se viver o "nós", é preciso trabalhar o "eu". Todos
nós temos a necessidade de ser amados. São muitas as pessoas que, com o intuito de corresponder a esta carência, pagam caro e se submetem a diversas situações. Todos nós temos necessidade de um puro amor. Contudo, se esta carência afetiva não for bem direcionada poderá tornar-se um fator de desequilíbrio, arrastando-nos, muitas vezes, a tomar atitudes contrárias a um sadio comportamento.

Em uma sociedade na qual as famílias são cada vez mais desestruturadas – com mães e pais que são solteiros e filhos órfãos de pais vivos –, o índice de ausência de amor na formação de nossas crianças é assustador. Uma criança que nunca recebeu um abraço de seus pais, que nunca recebeu carinho e que, ao contrário, foi criada em meio a gritos e grosserias, com certeza crescerá com um enorme vazio existencial. Muitas destas "crianças", hoje já crescidas, e impulsionadas por suas carências cometem grandes erros somente para atrair sobre si a atenção dos demais.

Por isso, acredito que antes de viver qualquer relacionamento afetivo, como o namoro, precisamos aprender a trabalhar nossa história, buscando a cura de nossos afetos. É claro que não precisamos ser perfeitos para namorar; mas, existem coisas em nossa vida que precisamos resolver antes de assumir um relacionamento. Nem sempre o namoro é a solução, e pode até se tornar negativo se não estivermos preparados para bem vivê-lo. Carência com carência só pode gerar desequilíbrio e um relacionamento doentio, no qual a cobrança será excessiva e a ternura ausente. De modo que um sufocará o outro e a relação acabará se tornando um peso.

Existem determinadas coisas em nossa história que somente Deus poderá curar, outras que somente nós poderemos resolver. Por isso, faz-se necessária a experiência do autoconhecimento para que assim descubramos nossa verdade e os passos que precisamos dar na busca da cura interior, de modo que Deus possa trabalhar em nossa história, curando nossas feridas e marcas. Estas experiências (a cura dos afetos, por exemplo) precisam preceder nossos relacionamentos, para que assim o ciúme, o orgulho e as nossas carências não destruam o verdadeiro afeto no relacionamento.

Namorar é bom, ou melhor, ótimo! Mas, melhor ainda é namorar pronto, do jeito certo, tendo equilíbrio no amar e ser amado, compreendendo que somente Deus pode preencher o vazio da alma e que este espaço o outro não poderá ocupar, por mais que o forcemos a isso.

Amor em que um diviniza o outro e depois o prende é amor destemperado e doente. Antes de se viver o "nós", é preciso trabalhar o "eu", para que desta forma nossos relacionamentos tenham mais qualidade e sejam mais duradouros.

Quem não se deixa levar pela pressa e segue o caminho proposto por Deus colherá maravilhosos frutos e alcançará gradativamente a felicidade em seus relacionamentos.
Tenhamos a coragem de realizar tudo do jeito de Deus e não do nosso, e abramo-nos à Sua ação libertadora em nossas vidas. Somente assim poderemos bem acompanhar e ser acompanhados pelos demais.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ciúme: sinal de alerta nos relacionamentos

Um sentimento que envolve o medo de perder o amor da pessoa amada

Quem nunca ouviu dizer que o ciúme é o tempero do amor? E você? O que acha disso? Temos assistido muitos casos nos quais esse sentimento [ciúme] é o “fósforo aceso na pólvora”, ou seja, provoca reações inesperadas e de total descontrole. Pensando assim, você ainda acha que senti-lo é normal?

Fatores culturais fazem com que acreditemos que o ciúme é uma prova de amor e que pequenos sacrifícios, como deixar de ir a determinados lugares ou trocar de roupa para que a pessoa amada não se chateie, são bem-vindos e são aquele “tempero” no amor. A grande questão é que os tais “pequenos sacrifícios” e este “tempero” transformam-se em aprisionamentos à medida em que o tempo passa. Estar com o outro passa, então, a não ter tanto sentido, perde a graça, e, certamente, mexe com as estruturas de qualquer relacionamento.
Do ponto de vista psicológico é um sentimento que envolve o medo de perder o amor da pessoa amada e está diretamente relacionado à falta de confiança no outro e, sobretudo, em si próprio. Quando ele se torna exagerado, consideramos que se transforma numa doença, chegando a pensamentos obsessivos. A complexidade do ciúme é grande, pois envolve pensamentos, emoções, comportamentos e reações físicas.
Pessoas ciumentas comportam-se a ponto de certificar frequentemente se são queridas, se as pessoas podem dar provas de amor ou mesmo pedindo provas para que este amor seja certificado, tais como: proibir o amado de visitar um determinado lugar, usar esta ou aquela roupa, prometer que fará ou não fará uma coisa, dentre tantas outras.
Muitas vezes, coloca-se nesses pedidos, que são coisas externas, o significado do amor, que de um sentimento interior, passa a ser construído com provas externas. Ciumentos fazem interpretações distorcidas e, geralmente, fazem isso não apenas com seu par amoroso, mas também nas relações de amizade, trabalho, família, cobrando atenção e isso vale até mesmo para o uso de objetos pessoais por outras pessoas.
Vale lembrar que, quando excessivo, ele se torna um problema de saúde psicológico, pois a pessoa começa a ter sentimentos paranoicos, delírios de perseguição e temor imaginário de que a pessoa está sendo vítima do mundo, com muitas fantasias, imprecisão e dúvidas ligadas a ideais supervalorizados ou delirantes são percebidas de fato como reais.
Muitas vezes, a pessoa passa a ter compulsão em dirimir suas dúvidas e, com isso, passa a invadir a privacidade do outro, abrindo correspondências, mexendo nos bolsos, no celular, nas redes sociais, fazendo um perfil falso para tentar “cavar” provas de infidelidade e tantas outras atitudes extremistas. Parecem atitudes bobas e até mesmo são reconhecidas pelo parceiro, mas não servem em nada para aliviar o ciúme, e sim, aumentam a sensação de desconforto.
Se você passa por esta situação, é importante que converse bastante sobre o assunto com seu par, procurando, juntos, as alternativas que permitam que o verdadeiro amor, baseado na confiança e na cumplicidade, possa crescer entre vocês, deixando também que Deus aja na insegurança, nos reflexos de dificuldades afetivas do passado, bem como buscar ajuda especializada quando perceber que a situação tomou uma proporção maior do que aquela que vocês podem administrar sozinhos.
Deixe seus comentários!
Abraço fraterno,

A prática dos exorcismos

Não acreditar no demônio não o protegerá dele

A existência do demônio é um grande chamado a pensarmos na existência de Deus, sem o qual aquele não existiria. Entre os elementos que ocorrem nos casos de manifestações demoníacas trazidos pelos filmes estão: o falar palavras em línguas desconhecidas, a manifestação de coisas distantes ou ocultas, superioridade de força em relação à idade ou condições físicas, aversão a Deus, a Virgem Maria, aos demais santos e à Igreja. Leia mais nesta entrevista com o Padre Demétrio Gomes da Silva.
Padre, o exorcismo é um tema que exerce fascínio entre as pessoas e sempre explorado pelo cinema, que abusa dos "sustos" como forma de garantir a audiência. O que é o exorcismo?
Padre Demétrio Gomes: O exorcismo é uma ação litúrgica – propriamente um sacramental – utilizada, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto sejam protegidos contra a ação do maligno e subtraído ao seu domínio. A prática dos exorcismos foi iniciada na Igreja pelo seu próprio Fundador, e nela esteve presente ao longo de toda sua existência. Foi o mesmo Senhor quem deu aos apóstolos o poder de expulsar os espíritos imundos, afirmando que, entre os sinais que os acompanhariam os que creem, estaria a expulsão dos demônios (cf. Mt 16,17).

Atualmente os exorcismos podem ser classificados como públicos e privados. Os primeiros são aqueles administrados em nome da Igreja, por uma pessoa legitimada e segundo os ritos previstos; em caso contrário, são privados. Também como solenes e simples. Os exorcismos solenes são aqueles previstos para os casos de possessão ou obsessão diabólica; já os simples são aqueles que estão integrados dentro de outros ritos, como os do catecumenato ou do batismo.
Em linhas gerais, qual é a posição da Igreja para reconhecer a necessidade de um exorcismo? Quem pode ministrá-lo?
Padre Demétrio Gomes: Como afirmou, certa vez, o Papa Bento XIV, na Carta Sollicitudini, de 1745, essa necessidade se dá quando o exorcista possui uma certeza moral de que o exorcizando esteja realmente atormentado pelo demônio. Essa certeza moral é atingida quando se emprega todos os meios prudenciais para certificar-se de que não se trata de algum fenômeno de ordem puramente natural.

O exorcismo solene, tal como está previsto no Ritual de Exorcismos, só pode ser realizado por um sacerdote e com a devida licença do Bispo diocesano, que pode concedê-la, como indica o Código de Direito Canônico, a um presbítero piedoso, douto, prudente e com integridade de vida.

Psiquiatria, psicologia e neurologia hoje diagnosticam e oferecem tratamento para muitos transtornos antes encarados como possessão demoníaca. Esses aspectos são considerados pela Igreja na avaliação dos casos em que se suspeita de possessão? Quando o exorcismo é descartado?
Padre Demétrio Gomes: Para evitar uma tendência a considerar todos os eventos aparentemente extraordinários uma intervenção do demônio, o próprio Ritual de Exorcismos indica que, antes do uso deste sacramental, o exorcista deve manifestar a máxima prudência, não crendo facilmente que alguém esteja possesso, pois não se descarta, a princípio, a existência de alguma doença, sobretudo, de ordem psíquica. Neste sentido, o exorcista, sempre observando o sigilo da confissão, poderá recorrer aos peritos em ciência médica e psiquiátrica para avaliação de cada caso. Se ficar comprovado que o fenômeno é, de fato, de ordem natural, não deverá ser realizada a celebração do exorcismo.

Agora, a Igreja está atenta a outro extremo. Àquela postura dos que consideram que o demônio não intervém na vida dos homens, tentando reduzir a intervenção dos espíritos malignos a fenômenos meramente psíquicos ou paranormais. Também o Ritual de Exorcismo alerta sobre essa questão, solicitando a atenção aos artifícios e fraudes usadas pelo diabo para enganar a pessoa, para convencer o possesso a não se submeter ao exorcismo, afirmando tratar-se de doença natural. Aliás, esta é uma das grandes vitórias do demônio: fazer acreditar que ele não existe ou que não atua na história dos homens de hoje.

Infelizmente, pode acontecer, como notou certa vez o exorcista de Roma, padre Gabriele Amorth, de muitos sacerdotes aderirem a esta segunda postura e acabarem se descuidando do tremendo dever de caridade que têm de atender a estas pessoas atormentadas pelo demônio, afirmando, sem uma diligente investigação, tratar-se de algum fenômeno psicológico.
Avaliando, de forma mais direta, três filmes que abordam o Exorcismo: "O Exorcista", "O exorcismo de Emily Rose" e "O Ritual", mais recente, em quais pontos (de forma geral) essas obras apresentam conteúdo fidedigno ao Exorcismo na Igreja e em quais se distanciam?
Padre Demétrio Gomes: Sobre os três filmes citados, pode-se dizer que abordam conteúdos reais ocorridos realmente nos exorcismos, acrescentados com toques cinematográficos para torná-los mais “palatáveis” aos apreciadores do gênero. Entre os elementos que ocorrem nos casos de manifestações demoníacas trazidos pelos filmes estão: o falar palavras em línguas desconhecidas, a manifestação de coisas distantes ou ocultas, superioridade de força em relação à idade ou condições físicas, aversão a Deus, a Virgem Maria, aos demais santos e à Igreja. Não é difícil encontrar esses elementos nos filmes citados, o que certamente revela que houve um mínimo de preocupação por parte dos diretores por investigar os casos de exorcismo na Igreja. Aliados a estes conteúdos aparecem também outras imprecisões, que certamente passarão despercebidas pelo público geral. Penso, por exemplo, no último exorcismo do filme “O Ritual”, no qual o seminarista – ou diácono? – aparece realizando as funções próprias e exclusivas de um sacerdote na celebração do exorcismo maior. Apesar dessas e outras imprecisões, penso que esses filmes trazem muito mais semelhanças com o real do que cenas fantasiosas.

Algo nesses filmes chamou sua atenção ou surpreendeu?
Padre Demétrio Gomes: Em minha opinião, existe uma característica comum a esses filmes citados – sobretudo aos dois últimos – que me parece digna de ser mencionada. Mesmo estando elencados na categoria “terror”, não diria que são filmes propriamente desse gênero. Sem dúvida alguma, contêm cenas assustadoras, que nos permitem vislumbrar o quão extraordinariamente podem manifestar-se as forças infernais. Porém, vejo estes filmes como um grande convite ao telespectador a enfrentar-se diante de uma pergunta fundamental: “Será que tudo o que existe se esgota nesta realidade que conhecemos pelos nossos sentidos?”. Parece-me que estes filmes proporcionam um grande apelo a abrir-nos ao sobrenatural, a descobrirmos que existe uma realidade que nos rodeia e ultrapassa aquilo que podemos captar com nossos sentidos, sem ferir, contudo, a nossa razão natural. A existência do demônio – tônica desses filmes – é um grande chamado a pensarmos na existência de Deus, sem o qual aquele não existiria. No fundo, subjaz – talvez inconscientemente – algo bem semelhante ao argumento filosófico utilizado por Santo Agostinho de Hipona, que apontava para a existência de Deus – o Bem – a partir da existência do mal, já que este consiste na privação do bem.

Estas características aparecem em algumas frases que chamam bastante a atenção do atento telespectador. Cito, por exemplo o trecho da Carta de São Paulo, que aparece na lápide do túmulo Emily Rose, ao final do filme sobre essa pessoa: “Trabalhai pela vossa salvação com temor e tremor” (Fil 2,12). E outra do filme “O Ritual”, que é uma frase do padre Lucas, personagem de Anthony Hopkins para o jovem seminarista Michael Kovak: “Escolher não acreditar no demônio não te protegerá dele.” Uma excelente exortação aos homens de nosso tempo, que pretendem banir toda a alusão a Deus da esfera pública. A presença do mal no mundo, paradoxalmente, é uma manifestação patente de que Deus existe.

Termino lembrando umas palavras tomadas dos escritos de Santa Teresa de Jesus bastante confortadoras diante do temor que pode surpreender-nos ao tratar deste tema: “O demônio teme uma alma unida a Deus, como teme o próprio Deus.” É por isso que o sacramento da penitência – mais importante que os exorcismos, que são apenas sacramentais – é tão temido pelo demônio, pois aumenta a união do fiel a Deus. Infelizmente, é um dos sacramentos mais negligenciados de nosso tempo…

(Fonte: Revista A Tribuna, da Arquidiocese de Campinas).
Padre Demétrio Gomes da Silva

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Fim de namoro


A dificuldade que há em encarar o vazio deixado

E o namoro acabou... E com ele se foram sonhos, planos, certezas. Parece que a melhor coisa que havia na sua vida foi perdida: A pessoa com quem você namorou ou o próprio namoro.

Você já pensou nisso? De que você sente mais falta: da pessoa com quem você se relacionou ou do relacionamento em si? O que você acha de si mesmo hoje? Aquela pessoa que partiu, o que ela representava para você? Ela pode ter sido alguém que lhe mostrou o seu valor (e você passa a achar que só vale alguma coisa aos olhos dela). Quanta coisa você aprendeu com essa pessoa? Quanto você sofreu com essa relação, acreditando, buscando, se dedicando? Quanta coisa boa você descobriu em si mesmo, e que nem mesmo se dava conta? São tantas as coisas que precisamos avaliar no fim de um namoro!
O namoro acabou... Você já tentou de tudo, mas o vaso quebrou. Alguns ficam ainda tentando remendar... Não dá! É então necessário um tempo... Mas quem aceita? Busca-se desesperadamente alguma coisa que ocupe o lugar daquele relacionamento que terminou. Alguns caem na bebedeira, outros ficam desesperados por uma festa, e a maioria sai desesperada em busca de novos relacionamentos. E aí está um problema: Como se pode pensar em começar algo novo se ainda não foi assimilado aquilo que foi vivido anteriormente? 

O grande sinal de que é necessário um tempo de solidão é exatamente a dificuldade que há em encarar o vazio deixado. Esse tempo de solidão é necessário para avaliar aquilo que foi fecundado durante o relacionamento anterior. É necessário também (pois, com certeza, quando se sai de um relacionamento assim, se sai muito machucado...) um tempo para que as feridas cicatrizem. 

Quantas pessoas, a fim de sair da 'fossa' acabam se agarrando à primeira ilusão que surge? E quantos sofrem por isso? Quantos estragam a nova relação, comparando-a com a anterior (e isso só aumenta a saudade do que se foi), ou levando para o novo relacionamento todos os vícios que foram adquiridos? É preciso encarar. O namoro acabou; o vaso quebrou. É hora de transferir o líquido para um odre novo. Só Deus pode fazer um odre novo, e é Ele também quem o resgata, quem impede que o líquido (seus sonhos, esperanças, planos) escoe e se perca. E nesse odre novo é que você vai se derramar. Mas assim que a água é despejada, o que você vê? Turbulência. É essa a turbulência que você experimenta naquele primeiro momento. Mas se você espera um pouco, deixando aquela água aquietar-se, o que acontece quando você for olhá-la novamente? Você pode contemplar o seu reflexo!

Somente quando esperamos nossas inquietações se acalmarem é que temos condições de realmente entender o que foi trocado naquela relação; o que foi fecundado; o que foi doado... E se ficar sem aquela pessoa dói tanto, pare para pensar: O que você não consegue fazer sozinho? Qual o pensamento mais frequente agora que está só outra vez? O que você vale? Veja bem: Deus disse que não é bom o homem ficar só (cf. Gen 2,18). Mas a pior solidão talvez seja aquela que se experimenta nas relações em que falta o amor. O amor a Deus sobre todas as coisas, o amor a si mesmo e o amor de um para com outro. 

Muitas pessoas se engajam nesses namoros para disfarçar suas dificuldades sociais, familiares ou afetivas. É hora de deixar o amor de Deus falar mais alto e confiar na Palavra d'Ele, que criou, para o homem, uma ajuda que lhe seja adequada (cf. Gen 2,18). 

Você que hoje vive a espera, confie na ação de Deus em sua vida e acredite que há uma pessoa adequada para você. Basta você viver de acordo com aquilo em que acredita e não em função das feridas acumuladas. Hoje já é tempo de você honrar, respeitar e dignificar a esposa, o esposo, os filhos que Deus tem para você. Confiar em Deus é viver essa esperança a cada dia. 

O sexo nos planos de Deus

O jovem casto exercita o autodomínio para ser fiel no casamento
O livro do Gênesis assegura que, ao criar todas as coisas, "Deus viu que tudo era bom" (Gen 1,25). Portanto, tudo o que o Criador fez é belo. O mal, muitas vezes, consiste no uso mau das coisas boas. Por exemplo, uma faca é uma coisa boa; sem ela a cozinheira não faz o seu trabalho. Mas, se um criminoso usá-la para tirar a vida de alguém, nem por isso a faca se torna má. Não. O mal é o uso errado que se fez dela. Da mesma forma, o sexo é algo criado por Deus e maravilhoso. É por ele que a criança inocente vem ao mundo.
Como Deus deu ao casal humano a missão de gerar os filhos, "crescei e multiplicai" (Gen 1,28), providenciou o sexo como instrumento de procriação. E mais, para fortalecer a união e o amor do casal fez do sexo também o meio mais profundo da "manifestação" do amor conjugal.

Podemos dizer que o ato sexual é a celebração do amor, como que a "liturgia do amor conjugal". E é no ápice desta celebração do amor que o filho é concebido. Isto é, ele não é somente a carne e o sangue do casal, mas principalmente, o fruto do seu amor. É por isso que a vida sexual de um casal que não se ama de verdade nunca é harmoniosa.
O sexo é manifestação do amor. Sem este, ele fica vazio, desvirtuado e perigoso como aquela faca na mão do assassino. Faz muitas vítimas... O que é a prostituição, senão o sexo sem amor? É apenas um ato de prazer, comprado, com dinheiro ou outros meios. No plano de Deus a vida sexual só tem lugar no casamento.
São Paulo, há dois mil anos, já ensinava aos coríntios: "A mulher não pode dispor do seu corpo: ele pertence ao seu marido. E também o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa" (I Cor 7,4). O apóstolo dos gentios não diz que o corpo da namorada pertence ao namorado, nem que o corpo da noiva pertence ao noivo.
A união sexual só tem sentido no casamento, porque só ali existe um "comprometimento" de vida conjugal, vida a dois, no qual cada um assumiu um compromisso de fidelidade com o outro. Cada um é "responsável pelo outro" até a morte, em todas as circunstâncias fáceis e difíceis da vida. Sem esse compromisso de vida o ato sexual não tem sentido e se torna perigoso.
As consequências do sexo vivido fora do casamento são terríveis: mães e pais solteiros; filhos abandonados, criados pelos avós ou em orfanatos. Muitos desses se tornam os "trombadinhas" e "delinquentes" que, cada vez mais, enchem as nossas ruas, buscando nas drogas e no crime a compensação de suas dores. Quantos abortos são cometidos porque se busca apenas e egoisticamente o prazer do sexo, e depois se elimina o fruto: a criança!
As doenças venéreas são outro flagelo do sexo fora do casamento. Ainda hoje convivemos com os horrores da sífilis, blenorragia, cancro, sem falar do flagelo moderno da AIDS. O remédio contra a AIDS é a vivência sexual apenas no casamento; e não, como se propõe, irresponsavelmente, o uso de “camisinhas”, em vez de se eliminar o vício pela raiz.
É urgente que os cristãos, pais, professores e educadores tenhamos a coragem de ensinar novamente a castidade aos jovens.
Um jovem que se mantém casto até o casamento, além de tudo, prepara a sua vontade e exercita seu autodomínio para ser fiel ao seu cônjuge no casamento. É preciso mostrar urgentemente aos jovens os valores da castidade, tanto em pensamentos como em atos.
A televisão, os filmes pornográficos, as revistas eróticas abundantes e asquerosas injetam pólvora no sangue de nossos filhos, fazendo-os escravos do sexo. E por causa disso estamos vendo meninas de 13, 14 anos, grávidas, sem o menor preparo e maturidade para serem mães. Temos que acordar. Temos que ter a coragem de oferecer aos jovens a opção da pureza que Jesus nos legou: “Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8). Neste assunto Cristo foi exigente e não deixou margens à dúvida: “Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo de cobiça, já adulterou com ela em seu coração” (Mt 5,27).